Ontem, dia 21 de março, resolvemos durante o jantar que
alteraríamos a programação original para darmos mais um “tirim de espingarda”
(em mineirês, a referência a um tiro de espingarda é, em algumas regiões do
Estado, um indicativo de distâncias a percorrer). No caso, o “tirim” seria de
oitocentos e poucos quilômetros...
De café tomado às 8:00 h, pegamos as motos e pé na estrada
(no caso, pneus na estrada).
O friozinho que fazia em Trelew foi aumentando na estrada.
Na parada para o primeiro abastecimento 200 km adiante, todos tivemos que
colocar roupas mais quentes. Ver a ginástica que o Sueden teve que fazer pra se
encaixar nas segundas-peles e jaqueta e balaclavas foi uma diversão à parte.
Daí seguimos tranquilos pelas retas imensas, abrigados do
frio e no conforto dos pilotos automáticos que firmam a aceleração das Uly. Até
que começou a ventar...
Primeiro vieram umas rajadinhas na diagonal, empurrando mais
no ombro direito e, claro, no capacete. Quando pegou o ventão lateral, aí as
motos passaram a andar inclinadas mesmo, como um pêndulo. E um pêndulo porque
literalmente se movimentavam, na inclinação, sempre que o vento encontrava
alguma barreira, fosse um morro ao lado da estrada ou fosse uma das centenas de
carretas bitrem que circulam nestas retas daqui. A ultrapassagem nessas
condições exige muita atenção, pois quando você está sob a ação do vento a moto
está inclinada; quando você entra ao lado do caminhão na ultrapassagem ele
barra o vento, e aí você tem que acertar a inclinação da moto, senão ela te
leva pra direita (e pro caminhão...); e quando você está terminando a
ultrapassagem, saindo do alinhamento com a frente do caminhão, recebe aquela
porrada do vento outra vez e inclina a moto de novo.
À tarde, pegamos um trecho de serras, do qual também foi
possível tirar boas lições. Pra mim, a maior delas foi de que é preciso se
manter atento sempre, pois é o piloto quem tem que se adaptar às alterações das
condições da estrada.
Depois de trocentos quilômetros de retas e ultrapassagens a
120-130 km/h, encontramos a serra: pista boa, curvas de alta, e todo mundo de
Ulysses. O primeiro pensamento? Êba!... Só que ao final da primeira descida
havia um caminhão descendo a uns 15 km por hora, e o acostamento é de rípio...
Aí, muita calma nessa hora, pé no freio traseiro e depois mão no freio
dianteiro, diminuída suave, mas firme. Se o sujeito tá distraído ou ele cai ou
entra no caminhão.
Nesse trecho vimos também algumas lebres cruzando a estrada
e muitos rebanhos de Guanaco.
Vencidas as retas, as serras e o vento, chegamos com um belo
entardecer à aprazível Puerto San Julian, na gelada Patagônia.
Conseguimos um bom hotel e à noite visitamos um interessante
museu, o “Nau Victoria”, que é uma réplica da embarcação com que os primeiros
europeus chegaram naquelas terras, em 1520. Num restaurante próximo, jantamos e
saboreamos um bom vinho argentino.
E haja poder de síntese pra resumir tantas experiências numa
viagem destas...
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